In Construção
Não sou poeta nem faço lindos versos de amor
Amo intensamente...
Sentir é o bastante e mil palavras ou pincel
não serão capazes de discorrer meu coração apaixonado.
Aqui ou ali...
aonde quer que vá,
o amor será sempre o meu companheiro de jornada.
Não sou filha do acaso ou da sorte,
sou essencialmente LUZ nas trevas do adeus.
Encontro na dor um motivo a mais para viver
e na solidão a força para seguir.
A saudade me faz forte e o futuro me desafia
Não luto, posto que a vida não é batalha
Vivo e sobrevivo entre feras,
Me alimento dos frutos benditos que a NATUREZA me concede
a cada amanhecer.
Amo, ainda que o gesto me doa!
-Dora Vitoriosa-
Fantasma
Como uma lágrima que cai, sinto que estou caindo! Caindo no
mesmo poço de idiotice e dúvidas que antigamente, sem o direito de falar ou
expressar o que eu sinto; sentindo-me completamente errada e completamente
certa, sem saber se o que é melhor pra mim é mesmo isso que estou fazendo. Mas
então entra a famosa pressão psicológica e desmonta qualquer tipo de pensamento
positivo que esteja na minha cabeça.
Eu quero poder falar, eu quero poder dizer sempre o que
estou sentindo, mais ele não tem ouvidos pra me escutar, será que alguma vez na
vida eu vou poder ser eu mesma sem ser a errada de tudo? Qualquer problema sou
eu que arrumo, mas na hora de olhar o meu lado é complicado demais pra algumas pessoas...
Eu não queria sentir que sou a mesma menina de sempre e
queria que pelo menos uma pessoa conseguisse ver o que eu vejo em mim mesma!
Sinto-me perdida e sem saber pra onde ir, mas ao mesmo
tempo, tudo está exatamente perfeito, como se eu tivesse vendo uma estrada
perfeitamente intacta na minha frente, mas com tantas sombras em volta que me
dá medo pra prosseguir... é nessas horas que eu queria voltar a ser criança e
ter alguém pra me dar a mão e andar comigo...
Estou com medo.
(desconheço o autor)
Os meus versos
Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!…
Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente…
Rasgas os meus versos… Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…
Florbela Espanca
VERSOS DE ORGULHO
O mundo quer-me mal porque ninguém
O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.
Porque o meu Reino fica para além...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!
O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor?
-- O jardim dos meus versos todo em flor...
A seara dos teus beijos, pão bendito...
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
-- São os teus braços dentro dos meus braços,
Via láctea fechando o Infinito.
Florbela Espanca
O AMOR E A RAZÃO
Por Pe Antônio Vieira
Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos [...], nunca chega à idade de uso da razão. Usar razão e amar são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo.
Sermão de mandato
A tua parte que era parte da minha vida não é mais tua.
Assim como sei do que era “eu” dentro de você ficou desabrigado.
Cortei os retalhos do meu “chambre para homens”
E vi pedaços, esmiuçados, os nossos melhores momentos
lançados num abismo infinito.
Lembrei do teu berço por nome braços,do leito por “conforto-colo”,da tua alma denominada sorriso.
Busquei um pouco do resto e misturei com o que acreditei ser vida: a receita falhou, pois o nosso bolo do amor foi assado em fogo alto.
Compreendi, então, que nem mesmo o calor de várias chamas seria capaz de fundir nossos pensamentos.
É que aquele bolo já estava queimando por nosso próprio fogo.
Depois do balde de água fria veio a “normalidade”.
Então consegui enxergar que tal água foi capaz de restaurar minhas cinzas sobre o doce carvão da tua boca.
Juntos; cinzas embranquecidas e carvão molhado; recuperamos, sabe-se lá onde, o calor constante sem fogo: resistimos à água, nas não à nós.
Depois de toda essa metamorfose veio a frieza e assim, congelamos após a ventania que nos separou para sempre.
Dessa forma compreendi que nós, que éramos partes, somos agora apenas partes sem nós.
(Cláudio Cavalcante: poeta e jornalista bacabalense)
O apito do passado
O
Mearim derrama na distância
uma
água que em sonhos nos invade,
como
fio invisível que se lance a
separar
em duas a cidade.
E
essa água vem banhar sem que se canse a
vida
inteira que no rio nade,
porquanto
água de amor que lava infância
lava
também velhice e mocidade.
Mearim
- rio velho e rio novo,
alegria
e aflição de um mesmo povo –
um
mar se afoga nos mistérios teus.
Mas
preservas em ti, para Pedreiras,
vibrando
no ar, o apito das primeiras
lanchas
que nos deixaram seu adeus.
José Chagas
José Chagas
RIO MEARIM PEDE SOCORRO
Da minha canela nasce um filete d’água
Escorregando pela serra negra
Junto mais água me tornando leito
Uno no abraço o meu aliado Rio Corda
Belo irmão de águas límpidas
Que me rejeita porque sou barrento
Mas desço sem atrito sem esse aconchego
Vou sorrindo abraçar o Rio Flores
Engrosso mais meu caudaloso leito
Banho cidades importantes:
Pedreiras, São Luis Gonzaga, Bacabal, Vitória e Arari
Minhas florestas vândalos me roubaram
Venderam toda a minha riqueza
Fiquei despido, desprotegido de minhas ciliares
Desfertilizaram o meu vale
Queimadas loucas empobreceram o solo
Exportei riquezas, acumulei saudades
Minhas margens são tão erodidas
Meus igarapés são obstruídos
Da minha flora restam só arbustos
A minha fauna vai se extinguindo
Fui um pólo de desenvolvimento
O homem avaro só me explorou
Embarcações ostentosas navegam com exuberância
Águas fartas enchiam o meu caixão
Hoje vegetais mortos repousam no meu leito
Transportei volumes fardos de algodão
Dei muito emprego para a multidão
Agora sinto-me velho e abandonado
Esperanças enchem grandes corações
Sou protegido pelas grandes leis
Só se fala em minha redenção
Posso unir milhões e produzir mais grãos
Saciarei fome e mitigarei sede
Irei jocoso em minha direção
Sei morrer de inanição
Pois lá na frente recebo outro irmão
O Rio Grajaú pomposo me estende a mão
Junto à foz recebo o Pindaré aflito
Vamos, irmão, vencer nossas jornadas
Pois o mar precisa da nossa união
Na formação das grandes pororocas.
(Mário Lago: poeta bacabalense)
Da minha canela nasce um filete d’água
Escorregando pela serra negra
Junto mais água me tornando leito
Uno no abraço o meu aliado Rio Corda
Belo irmão de águas límpidas
Que me rejeita porque sou barrento
Mas desço sem atrito sem esse aconchego
Vou sorrindo abraçar o Rio Flores
Engrosso mais meu caudaloso leito
Banho cidades importantes:
Pedreiras, São Luis Gonzaga, Bacabal, Vitória e Arari
Minhas florestas vândalos me roubaram
Venderam toda a minha riqueza
Fiquei despido, desprotegido de minhas ciliares
Desfertilizaram o meu vale
Queimadas loucas empobreceram o solo
Exportei riquezas, acumulei saudades
Minhas margens são tão erodidas
Meus igarapés são obstruídos
Da minha flora restam só arbustos
A minha fauna vai se extinguindo
Fui um pólo de desenvolvimento
O homem avaro só me explorou
Embarcações ostentosas navegam com exuberância
Águas fartas enchiam o meu caixão
Hoje vegetais mortos repousam no meu leito
Transportei volumes fardos de algodão
Dei muito emprego para a multidão
Agora sinto-me velho e abandonado
Esperanças enchem grandes corações
Sou protegido pelas grandes leis
Só se fala em minha redenção
Posso unir milhões e produzir mais grãos
Saciarei fome e mitigarei sede
Irei jocoso em minha direção
Sei morrer de inanição
Pois lá na frente recebo outro irmão
O Rio Grajaú pomposo me estende a mão
Junto à foz recebo o Pindaré aflito
Vamos, irmão, vencer nossas jornadas
Pois o mar precisa da nossa união
Na formação das grandes pororocas.
(Mário Lago: poeta bacabalense)