sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

texto de Marília Oliveira

A CRISE QUE ME AFETA

Ando muito preocupada com a crise. Não a crise econômica mundial, mas a que ronda a vida de alguns amigos. Não que eu tenha uma postura maniqueísta em relação às reações humanas, muito menos estou me isentando de tê-las, mas, num momento de reflexão eu pude ver claramente o quanto absorvo o sofrimento e as inquietações das pessoas que me cercam. Digo isto porque sempre fui a amiga conselheira, solicitada nas horas de decisões, de angústias, de tristezas, de alegrias, enfim, aquela que compartilha os problemas na tentativa de torná-los mais suaves. E esse papel nunca me incomodou, ao contrário, sinto-me orgulhosa de saber que as pessoas confiam em mim e que se sentem bem ao conversar comigo.

A questão é que eu mesma não sei a melhor maneira de solicitar esse tipo de ajudaquando preciso. Passei por dias difíceis, com um problema que me afetava diretamente e tive a real noção de que ninguém consegue passar por um problema sozinho, muito menos resistir incólume. Tudo está mais calmo agora, mas no auge da minha crise eu não pude ser a psicóloga de sempre, não fiquei disponível e fui cobrada pela ausência de alegria e euforia de sempre. Não me chateio com isso, pois sei o quanto é difícil para as pessoas aceitaram um comportamento diferente do habitual.

Depois das tormentas, pude analisar as crises paralelas e tentar ajudar. Antes, porém, preciso fazer uma ressalva: são todos amigos com vinte e tantos/ trinta anos, nessa tal virada de idade que a cada década vai assustando as pessoas. Pois bem, vou relatar algumas coisas sem citar nomes, apenas como um desabafo e como um alerta mesmo.

Um amigo querido me diz que não está bem e tentamos juntos buscar o motivo. Na verdade é uma mistura de coisas. Baixa auto-estima, problema de saúde em família, término de namoro etc. Mais um que vai para o analista. Outro tem problema de relacionamento e oscila no comportamento com as pessoas. Percebe-se o quanto ele sofre com isso, mas realmente não consegue mudar. Qualquer probleminha lhe tira o sono e a solução é recorrer a calmantes. Outro que vai buscar terapia!

Uma amiga de infância com crise no casamento. Está desempregada e tem um filho pequeno. O riso de sempre não existe mais. Não vejo mais o brilho de antes e parece ter desistido de suas esperanças. A amiga dos tempos de colégio que está em um novo relacionamento queixa-se de problemas de comunicação com o namorado. Além disso, a vida de seu parceiro é sempre cercada de mulheres. Ex-namoradas, amigas, simpatizantes, fãs... Todas freqüentam sua casa. Situação delicada. E uma série de fatos relatados que me deixam com a sensação de impotência. É que o que penso a respeito talvez seja o que eles não queiram ouvir. Mas se amigo é quem diz tudo, dá o conselho certo, quando sou consultada, digo.

Parei para refletir sobre tudo isso e outras coisas ao redor. Coisas minhas também. Parece que tudo está transformado, a correria da vida endureceu a gente e o afeto ficou de lado. Tanto que no último domingo senti a necessidade de ir à missa por dois grandes motivos: rezar por todos nós e me sentir mais próxima de gente na hora do 'abraço da paz'. Senti nesses dias falta de carinho. As pessoas andam muito atormentadas por problemas e esquecem um pouco do afeto e do carinho que são combustíveis essenciais para sobreviver na dura vida.

Isso poderia nem me preocupar, eu simplesmente fingiria que está tudo tranqüilo e viveria minha vida. Mas preciso das pessoas e quero vê-las bem. Gosto de risos frouxos e inocentes, de abraços sinceros e calorosos. Quero saber como estão e o que pensam. Não vou cobrar felicidade sempre, pois sei que isso é utopia. Mas quero poder contribuir com alguma alegria. E, quando eu não puder rir ou dar carinho, é que no fundo, estou pedindo isso.

O meu apelo é por menos crises, tormentas e fraquezas. Que as pessoas se olhem de manhã no espelho e se gostem. Que saiam nas ruas sentindo que podem muito e que números - quilos, anos, contas em vermelho - são meros detalhes. Que gordura, idade e sofrimento sempre chegam, mas que cabe a cada um de nós aprender com eles ou livrar-se deles. Talvez seja um erro essa mania que tenho de tomar problemas alheios para mim. Talvez seja exagero esse meu sentimentalismo e o carinho por gente que carrego comigo. Mas é que meu apelo maior é por crises de abraços e beijos.